O texto que se publica é a reprodução de uma conversa com Guilherme Manpuya, ocorrida em Maio de 2011, em Luanda, a propósito de uma exposição que realizou no Instituto Camões nesta cidade e que foi publicada em forma de entrevista no semanário SOL Angola, com o título "Guilherme Manpuya no Instituto Camões em Luanda".
“O Tempo Não Pára” é o tema da exposição do pintor Guilherme
Manpuya que vai ser inaugurada no próximo dia 25, Dia de África, no Instituto
Camões, em Luanda. «Um tema escolhido em conjunto», revela o artista ao SOL.
«Quando me contactaram, já tinha a ideia de pintar uma série de quadros ao
jeito de crónicas do dia-a-dia», afirma. No fundo, o movimento das coisas que
vão acontecendo, ou nas palavras do pintor, a «fluidez do tempo».
As obras que vai apresentar ao público são, todas elas, inéditas.
«Pintadas entre Fevereiro e Abril deste ano», precisa. Quanto a novidades, a revelação
pública de um novo caminho. «Geralmente, as minhas telas são totalmente
preenchidas, o que não vai acontecer desta vez», revela Manpuya. As cores dominantes
são o vermelho, o azul, o branco e o verde-limão. Sobre a reacção do público
espera para ver: «Lerei as expressões dos rostos e logo saberei a apreciação
que fazem».
De Picasso a Dubuffet
Entre as duas dezenas de obras, oito “falam” entre si e
funcionam como um políptico. No total são 2,40 por 1,24 metros de tela que vão
estar no Instituto Camões, na capital angolana.
O diálogo com o pintor decorre solto e sem alinhamento.
Miguel Ângelo é nome muitas vezes lembrado, mas também surgem outros. Picasso é
um deles: «Estudei este pintor que me ensinou uma regra: pintar todos os dias».
Mas não lhe bastava. Era "popular" e superficial em muitos
aspectos. A visão que buscava nos anos de aprendizagem descobriu-a, mais tarde,
num grande mestre da pintura: Salvador Dalí. “Nunca se compreende plenamente a
profunda visão mística de Dalí”, alerta. Além da infinita imensidão que lhe ensina
este pintor, Guilherme Manpuya lembra que alguns dos seus traços são inspirados
em Jean Dubuffet, o criador da “arte bruta”, expressão que designa os criadores
livres de qualquer influência de estilos oficiais, incluindo as diversas vanguardas,
ou das imposições do mercado de arte.
Caminho igual a Haring
Segundo Manpuya, o pintor francês «minimiza o ver no traço
e, deste modo, foge ao realismo». E conta uma história: «Certa vez, um amigo
olhando para as minhas telas reparou nas semelhanças com um artista
norte-americano, Keith Haring». Alertado, foi informar-se sobre este pintor e
descobriu que, também ele, tinha buscado inspiração em Dubuffet.
Guilherme Manpuya e Francisco Moraes Sarmento |
Trata-se de um momento, «produto do espírito, que retira
força ao tempo». A obra de arte «é uma cristalização do espírito, do ponto de
vista formal e material», explicita. O “realismo figurativo” coloca o real
«fora do tempo» e, simultaneamente, «é um momento que permite compreender mais
profundamente o real que imita e exprime», acentua Manpuya. «A eternidade é uma
criação artística», conclui.
Para o artista, a visão é um dom e sabe que o gesto que determina o traço, tanto lhe pertence, como é de algo que, através dele, ganha sentido social. O exemplo vai retirá-lo a Mukichi, ente místico das Lundas, «um dançarino que surgiu da noite do tempo e nada se sabe sobre a sua geração. O tempo não passa por ele e a sua figura é uma presença da nossa alma», confidência.
Para o artista, a visão é um dom e sabe que o gesto que determina o traço, tanto lhe pertence, como é de algo que, através dele, ganha sentido social. O exemplo vai retirá-lo a Mukichi, ente místico das Lundas, «um dançarino que surgiu da noite do tempo e nada se sabe sobre a sua geração. O tempo não passa por ele e a sua figura é uma presença da nossa alma», confidência.
Aqui, surge a aparente contradição entre «o tempo não pára»,
título da exposição, e a eternidade do momento. Guilherme Manpuya resolve a
interrogação: «o momento é a intersecção do espírito no material, uma cristalização
que vive através da memória».