Walmor Grade: Caro Francisco, boa noite!
Acabei de ler o teu artigo Homem: "animal racional" ou "razão animada"? Como sou um simples leitor curioso (não sou escritor, jornalista
ou filósofo), confesso que minha superficialidade não permitiu que captasse a
essência ali contida, talvez pela linguagem mais filosófica utilizada. Não sei
se estou no caminho correto, mas estarias querendo dizer que a evolução
referida por Aristóteles seria no sentido da purificação (ou santificação e
consequente libertação) da alma que anima o homem, único ser vivo com esta
possibilidade, por causa de sua racionalidade? Imaginei ser esta a tua ideia,
mesmo porque parece confirmar que tal evolução se diferenciaria dos conceitos
do Espiritismo e do Darwinismo. Se eu estiver raciocinando corretamente, dirias
que a incorruptibilidade dos corpos de alguns santos seria já quase uma “demonstração
com argumentos da observação”, neste caso? Agradeço a compreensão e a atenção
que puderes conceder. Grande abraço
Francisco
Moraes Sarmento: Caro Walmor, agradeço o seu comentário. Primeiro
uma justificação: demoro a comentar , uma característica própria que não
significa desprezo pelo meu interlocutor.
O pensamento não pressa e, reconheço também, sou um discípulo preguiçoso
de Hermes. Preguiçoso, mas atento.
Quanto ao que escreve: parece-me correcto e penso
que estejamos em concordância no geral. O homem aperfeiçoa-se e a condição
desse movimento é conhecer-se enquanto espírito. Na filosofia portuguesa, a
vida é teleológica e simboliza o regresso ao paraíso. O homem, composto de
corpo, alma e espírito, é um ser que evolui. O evolucionismo encerra-se na
antropologia e não transgride para a cosmologia (vertendo-se num
transformismo) e para a teologia (tornando-se numa espécie de
antropocentrismo). A palavra é um acto de razão e só conhecemos ou tem
existência o que emerge através da palavra. A racionalidade, e não a razão
raciocinante, é uma tendência para a perfeição ou para utilizar a suas palavras
poderá ser uma purificação ou santificação. Mas ao utilizar estas expressões
apelamos, ainda que não seja nossa intenção, para uma cisão e uma
separatividade que coisificada poderá obstruir à visão unívoca da verdade. Do
ponto de vista antropológico, a morte é uma mudança de estado, a que a teologia
dará significado.
Na citação que faço do filósofo português, penso que
não estaria a focalizar-se na questão da “incorruptibilidade dos corpos de
alguns santos”. Poderá ser esta incorruptibilidade uma manifestação do
aperfeiçoamento da razão (ou nos seus termos, da purificação ou santificação)?
Quanto a esta questão não saberei responder.
Termino, agradecendo novamente o seu comentário e
esperando continuar o nosso diálogo. Um abraço. Francisco
Walmor
Grade: Salvé, Francisco! Gostei muito do seu pensamento. Vc
diz agora: “A palavra é um acto de razão
e só conhecemos ou tem existência o que emerge através da palavra.” E também
usa o termo “visão unívoca”, que acabo de ver também numa explicação do Prof
Olavo de Carvalho, ao falar sobre a linguagem humana num contexto bastante
aproximado, aqui. Gostei bastante de ambas as colocações.
Abraços.