Entre as lombadas visíveis, e bem visíveis, constavam as de António Quadros. Torga para além de os consultar na biblioteca, também os lia e comentava por vezes.
A troca de correspondência entre os dois intelectuais mostra que existia uma admiração mútua, apesar do "complexo de esquerda" que Torga por vezes denotava e o fazia calar o que lhe ia na alma. Em carta dirigida a Quadros, Miguel Torga escreve a 1 de Maio de 1987, a propósito de "Portugal, Razão e Mistério": "Foi uma bela empresa a que meteu ombros, esta de procurar, e conseguir, abrir-nos os olhos para a evidência de um Portugal oculto, que todos, sem darmos conta, trazemos na memória e na imaginação. Cá fico, com água na boca, à espera do terceiro volume da série".
Mais tarde, a 16 de Março de 1989, sobre "A Ideia de Portugal na Literatura Portuguesa dos Últimos Cem Anos": "Li-o com o alvoroço que pode calcular, e felicito-o sinceramente por um trabalho que passa a ser consulta indispensável para quem deseja conhecer o que pensaram e disseram da nossa pátria gerações sucessivas. Se nem sempre pude estar de acordo cm alguns pontos de vista e juízos estéticos nela formulados, e se preferisse um texto mais preciso e menos repetitivo, percorri, contudo, gratamente o restante espaço da obra, rendido à lucidez que a ilumina". Falta dizer que Torga agradece as "palavras de solidariedade" que Quadros lhe dava notícia desde o Brasil.
O "traço de união" entre Miguel Torga e António Quadros era a idealidade patriótica, a portugalidade se quisermos, talvez mais próximo do sentimento no primeiro; talvez mais direcionado para o espírito no segundo.
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