Madalena


Prefácio ao "Madalena, fragmentos de um romance" de C. Bruno



O livro que o leitor folheia resulta de um conjunto de cartas dirigidas por C. Bruno à sua amada, Madalena, que o Autor, amigo de longa data, me fez chegar para publicação. Os dois, somos irmanados na Escola da Filosofia Portuguesa, tradição espiritual que se filia na Renascença Portuguesa, de Leonardo Coimbra e Teixeira de Pascoaes. O que escrever sobre C. Bruno? Avesso à divulgação, é uma personagem das horas tertuliares que outrora se sitiavam nos cafés de Lisboa. Epígono de Álvaro Ribeiro e Orlando Vitorino, nada fez publicar até agora. É um dos que prefere a palavra oral à escrita. Talvez por esta razão, C. Bruno apenas seja conhecido nos meios mais restritos da Escola da Filosofia Portuguesa. Não obstante, um episódio revelará melhor a personalidade sobre quem escrevo.

Certo dia, durante um jantar de tertúlia, António Telmo deu notícia de um episódio a propósito de Orlando Vitorino, seu irmão e um dos mais decisivos filósofos portugueses. Entre os convivas, o tema era Teixeira de Pascoaes e a sua relação com a filosofia portuguesa. Não lembro os termos exactos e precisos de Telmo, mas o relato foi mais ou menos este: Álvaro Ribeiro, mestre de várias gerações de filósofos, poetas e escritores, convidou os seus discípulos a deslocarem-se à estação de Santa Apolónia, em Lisboa, para aguardarem o «poeta do Marão», que alguns apenas conheciam por tradição tertuliar e através da sua vasta obra. Enquanto o comboio não chegava, um deles, o Orlando Vitorino, encostou-se à parede do edifício em jeito marialva e, como era seu hábito, acendeu um cigarro que levava aos lábios pacientemente e com prazer. Entre fumaças distraía-se a observar quem partia e chegava, as despedidas e as saudades. Entretanto, Pascoaes tinha descido da carruagem e Álvaro Ribeiro iniciou as apresentações. Afonso Botelho, António Quadros, o próprio António Telmo, entre outros. Quando se acercaram de Orlando, o poeta estendeu-lhe a mão para o cumprimentar. Último da fila, o filósofo não se demoveu da sua atitude provocatória e à solicitação do poeta retorquiu: «Conheço-o de algum lado?» A expressão a todos espantou, mesmo os mais compreensivos da mais alta ironia, tropo literário e artístico muito próprio dos homens de teatro como era o caso. Dizer a verdade como mentira e a mentira como verdade é uma regra da arte dramática e, também, de vida. A noção segundo a qual o teatro é emblema, sinal e símbolo levou à popularizada designação de «teatro do mundo» para referir o que o actor faz. Volvendo a Pascoaes, o poeta de visão unívoca e inteligência perspicaz descartou a aparente nocência e respondeu: «Conhecemo-nos desde o princípio do mundo!». Orlando esboçou um sorriso, cumprimentaram-se e, desde então, foram fraternos. O poeta integrou ambos numa idealidade que só os homens de espírito reconhecem.
Se entre os convivas o episódio só retratava o «comportamento provocatório e radical» com que muitos classificavam o espírito apolíneo de Orlando Vitorino, C. Bruno sentiu um arrepio na espinha que me transmitiu mais tarde. À memória veio uma dedicatória do filósofo a propósito de uma conversa que mantivemos, os três, sobre o livro «A Refutação da Filosofia Triunfante». Escreveu Orlando Vitorino: «Ao (…) que conhece este livro desde – como me disse Pascoaes – o princípio do mundo».

Como escrevi, este episódio revela a filiação de C. Bruno e o livro que se oferece agora à estampa, «Madalena, fragmentos de um romance» é uma inferência dessa linhagem dos homens de espírito. Na obra, o leitor observará o encontro e o desencontro entre um homem e uma mulher. Não obstante, com demora e atenção e, sobretudo, ultrapassados os obstáculos inerentes ao carácter epistolar, saberá encontrar uma teoria do amor.  


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