sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O regresso do “lápis azul”

Segundo as novidades da imprensa, o Governo aprovou legislação sobre a "luta contra o terrorismo" que inclui a criminalização do acto de aceder ou ter acesso aos sítios da internet onde se incita ao terrorismo. Para além da subjectividade da questão já apontada por analistas, não estaremos perante a introdução efectivo da censura e um ataque à liberdade individual? 

A internet é um instrumento de liberdade e o mais poderoso meio expressão da pura subjectividade dos indivíduos na sociedade. A censura contraia o desenvolvimento das comunidades, sendo certo que sem liberdade politica não liberdade económica. 

Publicamos uma série de artigos em que abordamos estas questões que foram dados à estampa no Diário de Notícias em 2003 em artigos que foram reunidos em livro que intitulámos “Webnotas, da sociedade de informação ao novo estilo de vida”.

Liberdade

Uma das características mais decisivas do novo estilo de vida advém dos hábitos, comportamentos e atitudes suportados pela democratização das tecnologias e, principalmente, pela possibilidade de cada um poder exprimir socialmente a sua subjectividade, sem intervenção das tradicionais tubas de poder da sociedade moderna A expressão de necessidades e desejos foge, cada vez mais, às noções de classe ou segmento, através dos quais teorias filosóficas, políticas e económicas procuram diluir e anular o indivíduo num ser genérico, ou se quisermos, numa «massa». Conceitos como o de personalidade são generalizados até à abstracção que resulta do desenvolvimento do gregarismo que transforma o indivíduo num espectro humano. 

A arte de pensar, que tem na autognose principial preceito, é preterida pelo comportamento voluntarista, de quem vive um estado alienado, mais permeável à manipulação. As pessoas não são consideradas no que têm de inédito e original e a invidualidade passa a ser origem do mal. A liberdade perde o seu carácter espiritual e decai numa prática. Os instrumentos passam a determinar valores e finalidades que só na acção, e pela acção, adquirem realidade. Como a acção não é perpétua, tudo será mera virtualidade e não existente. A utilidade, principalmente a que promove a exploração e a posse, é o que mais importa. 

«Contra factos não há argumentos» é o adágio desta visão. O abandono da liberdade, do bem e da verdade só não é radical e irredutível porque são princípios constitutivos do pensamento presente em todos os seres e em todas as coisas. Porque só se pensa o bem e todo o pensamento contém, de algum modo, verdade, a entificação do mal, véu do erro, surge na história e na humanidade. Apenas a sua existência parece obstruída até que o movimento eterno o revele. Não obstante a situação cultural, política e económica possa difidultar a sua realização, a liberdade não se diminui à realidade sociológica. A escolha e a opção, tópicos utilizados pelos modernos para aferir o grau de liberdade pessoal, são critérios voluntaristas e opiniosos. A liberdade é um princípio de pensamento que, insubstancial, antecede a lógica e o nexo.