segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Homem: "animal racional" ou "razão animada"?


"Razão animada" opõe-se a "animal racional", expressão que atribui substancialidade ao género animal, ao qual todos os outros se subordinam, vertendo na definição o que não é mais próprio nem essencial ao homem. Em harmonia com a classificação de Aristóteles, o termo animal e um género heterogéneo, pois as suas "diferenças serão especificamente distintas" em relação a outros géneros, enquanto "homem" predicado de "animal" terá as diferenças deste género e a ele se subordina.

Ora, verifica-se que o ser humano distingue-se pela sua racionalidade, ou seja, a alma humana diferencia-se pela razão. Logo, remata-se o nosso raciocínio pela superioridade conceptual da noção de homem segundo uma "razão animada", ou espírito animado. Diremos então: a espécie humana não existe.

Esta expressão assume, igualmente, importância para o estudo das ideias porque desenvolve o pensamento de Aristóteles, nos nossos dias degradado conforme as tendências do pensamento que perseguem finalidades perturbantes do entendimento virtual da "anima".

O conceito de Álvaro Ribeiro afasta-se das correntes naturalistas e positivistas que deturpam o que a expressão "animal racional" implica no pensamento aristotélico e, identificando a parte com o todo, acentuam o seu carácter biológico, que, sem deixar de estar patente na expressão realista do filosofo grego, não tem a conotação nem o objectivo inferior que lhe e aditado pelos naturalistas.

Avisa Álvaro Ribeiro: "O pensamento aristotélico está muito mais perto do que mais tarde se chamou evolucionismo, doutrina que se propõe demonstrar com argumentos da observação uma tese implícita nas superiores tradições religiosas. A ascensão do homem pela escala zoológica, se for provada por argumentos paleológicos, comprovara o cativeiro e a remissão, a queda resultante do pecado original, o que e muito diferente daquele evolucionismo que outrora foi divulgado para negar o criacionismo do Genesis".

"Razão animada" é já uma actualização da tradicional distinção aristotélica entre géneros heterogéneos e subordinados. Se, num aspecto, o conceito alvarino não implica "diferenças especificamente distintas", pois todos os seres possuem alma e, por conseguinte, deles se afirma que são almados; se observarmos que a razão e própria só do homem e de mais nenhum outro ser, constituindo essa a sua diferença específica; logo, julgamos justificada a não aplicação da referida classificação.

A diferença lógica e gramatical que se verifica no pensamento assinala de um modo mais verdadeiro a efectiva descontinuidade observável na realidade entre a animalidade e a humanidade.
 
In "Escola de Filosofia Portuguesa. Teoria e Doutrina. Ensaios Peripatéticos" (no prelo)

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