segunda-feira, 21 de outubro de 2013

"Madalena, fragmentos de um romance": o livro como acto mágico, por Cynthia Guimarães Taveira

A pedido de Francisco Moraes Sarmento, pedido surpreendente vindo de um mundo estranhamente mudo aqui deixo algumas linhas sobre o seu romance: “Madalena, fragmentos de um romance”.

Os romances e ainda assim, mesmo que sejam apenas romances, são tentativas da escrita do destino de alguém. No entanto, acabam por fazer parte do destino do leitor.
Será o amor uma gigantesca sugestão? Serão as sugestões consistentes?

Colocarei aqui de parte a mulher como imagem desvirtuada de qualquer coisa que não seja a passividade que lhe está reservada necessária para o reflexo do Espírito Santo, equivalente, aí, às crianças, como imagem de pureza tal, que bastando a presença como testemunha/reflexo da realidade apresentada, é o suficiente para que possa fazer afirmações surpreendentes e, muitas vezes, simples, tão próximas se situam do Espírito Santo que por elas sopra e assim resolvendo dúvidas, em simples constatações, como ajuda angelical, apaziguando em consolos simples, próximos do céu, em espontaneidade pura, entrega genuína.

Os encontros levantam dúvidas, não porque o outro seja espelho nosso, mas dúvida nossa, curiosidade nossa. Bruno encontra Madalena e tenta resolver-se, ir mais fundo ao encontro de si. Para isso ficciona um destino procurando inventá-la nesse destino. É uma “anima” criada numa tentativa de fusão dos tempos. Mas Madalena está estranhamente ausente deste livro. O que temos é todo um conjunto de visões que ele tem dela e de si próprio. A voz dela não está lá. Voz verdadeira dela não se encontra. Existe apenas um destino urgentemente inventado, um beijo urgentemente criado, ilusório como as imagens do mundo. Aquilo que Bruno oferece é a sua própria ficção e tenta que ela entre na sua própria ficção. O livro como acto mágico. Do outro lado, ela na realidade, por vezes, mágica também. Nunca se encontram ele e ela. Nunca ouvimos as duas vozes neste livro. Nem fora dele. Encontram-se apenas numa espécie de espaço imaginado, numa nostalgia dolorosa feita, também ela, de imagens-desejos ilusórios. Ele é matéria verbal. Ela matéria reservada pelo tempo e seus mistérios. Ela deu-lhe a possibilidade de se re-descobrir, em parte, no que escreve, e aqui, a escrita como demanda. Ele era o Verbo criador dela. Ela o Verbo criado por ele. O beijo está fora do livro. Porque ele é quando o Verbo se torna Ser. Um beijo não é ficção. É quando já não há teoria do amor. Só amor.

(13-10-2013)
Cynthia Guimarães Taveira

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