“Detestando o barulho, a publicidade, o acotovelamento, este intelectual puro, quis sempre viver, ao contrário do que pensam alguns, como Fernando Ninguém… Mas foi – o tempo o confirmará – uma verdadeira pessoa, uma grande pessoa!”... escreve António Ferro sobre Fernando Pessoa. Um poeta “grande” que “muitos admiram, alguns compreendem e poucos conhecem”, cujos versos “serão eternos”.
Bastariam estes curtos comentários escritos a propósito do
primeiro aniversário da morte do Autor da “Mensagem”, publicados a 30 de
Novembro de 1936, no “Diário de Notícias”, para desmentir os que procuram
encontrar entre Ferro e Pessoa uma relação marcada pelo aspecto politico – o
nacionalismo – e a construção do ideário do Estado Novo.
A perspectiva política e algum revisionismo histórico,
acompanhado pela ignorância ou o desprezo por documentos e testemunhos já
conhecidos, têm obstruído o profundo conhecimento de uma amizade e admiração
entre os dois intelectuais que terá tido início em 1912 e se manteve para além
da morte do poeta em 1935. A António Ferro, deve Fernando Pessoa o
reconhecimento público da sua genialidade poética e do valor literário da sua
obra, nomeadamente a descoberta de “Mensagem”, única obra publicada em vida.
O envolvimento de Pessoa com a família Ferro também teve
contornos mais íntimos como revela Fernanda de Castro, escritora, poetisa e
mulher de António Ferro, anos mais tarde.
Através da sua iniciação na Escola da Filosofia Portuguesa,
associada à tradição familiar, António Quadros sublimou o seu fascínio pela
figura misteriosa do amigo de família numa hermenêutica do homem e da obra, do
pensamento e do génio. De amigo da família, Fernando Pessoa tornou-se o
companheiro espiritual de António Quadros que, ao “Diário de Notícias”, diria
pouco antes de falecer: "Para dar o essencial de Fernando Pessoa, tenho de dar o
essencial de mim. Às vezes, chego a pensar que Fernando Pessoa é uma presença
de que não me posso livrar".
A propósito do 126º aniversário do nascimento do poeta, “A
presença de Fernando Pessoa na Fundação António Quadros” mostra a influência da
família Quadros Ferro no destino da obra literária de Fernando Pessoa.
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